São Cipriano, chamava-se na verdade Tascius Caecilius Cyprianus. São Cipriano nasceu na cidade de Antioquia.
Antioquia era a terceira maior cidade do império romano, conhecida pelos seus hábitos de devassidão e depravação, o que por vezes causou dores de cabeça ás administrações imperiais de Roma, presentes naquele território.
Antioquia era uma cidade antiga erguida na margem esquerda do rio Orontes, na Turquia. Foi nesta cidade que, São Paulo pregou o seu primeiro sermão numa Sinagoga nos tempos em que o Cristianismo era apenas uma pequena seita religiosa; foi igualmente em Antioquia que os seguidores de Jesus foram chamados de Cristãos pela primeira vez.
. Nesta metrópole conhecida por "Antioquia, a bela", ou a "rainha do Oriente", ( tal era a beleza da arte romana e do luxo oriental que se fundiam num cenário deslumbrante), a população era maioritariamente romano -helénica, e o culto dos deuses era a religião oficial.
Alguns dos cultos religiosos mais populares estavam associados a deusas do amor e da fertilidade, o que explica que a lascívia e a libertinagem eram praticas famosas nesta cidade.
Foi neste ambiente social, religioso e cultural que Cipriano nasceu. Cipriano,Filho de Edeso, ( pai), e Cledónia , ( mae), nasceu em 250 d.C. Era descendente de uma prospera família e filho de pais abastados e crentes das divindades pagas , que cedo o entregaram ao sacerdócio de Deuses.
Cipriano entrou assim em contacto com as ciências ocultas, e aprofundou afincadamente os seus estudos de feitiçaria, rituais sacrificiais e invocações de espíritos, astrologia, adivinhação, etc.
Cipriano nutria uma verdadeira vocação e gosto pelos estudos místicos e religiosos. Assim, Cipriano dedicou a sua vida ao estudo das ciências ocultas, sendo que ficou conhecido pelo epíteto de o «feiticeiro». Cipriano alcançou grande fama e o seu nome foi reconhecido enquanto um poderoso feiticeiro, capaz de grandes prodígios.
Cipriano não se limita aos seus estudos no sacerdócio em Antióquia, e desejando aprofundar os seus estudos ocultos,viaja pelo Egipto e pela Grécia, angariando conhecimento com vários mestres e sacerdotes místicos; ele estuda desde as mais ancestrais técnicas astrológicas, á numerologia hebraica, etc.
Por volta dos seus 30 anos, Cipriano encontra-se na Babilónia, onde encontra a bruxa Èvora.
Estudando com ela, Cipriano desenvolve as suas capacidades premonitórias e outras matérias sobre as artes da bruxaria segundo as tradições místicas dos Caldeus.
Após o falecimento da Bruxa Évora, Cipriano herda os seus manuscritos esotéricos, dos quais extrai muita da sua sabedoria oculta.
Ao fim de algum tempo, Cipriano já domina as artes das ciências de magia negra, contactando demónios.
Diz-se que se tornou amigo intimo de Lúcifer e Satanás, para os quais conseguia angariar a perdição de muitas belas e jovens mulheres, o que muito agradava aos diabos, que em troca lhe concediam grandes poderes sobrenaturais.
(Sobre como um bruxo ou bruxa se tornam servos do demónio, consultar Bruxas e Demónios, assim como o Malleus Maleficarum e Sabbath),
Com esse poder infernal, Cipriano construiu uma carreira de bruxo com grande fama, produzindo grandes feitos, o que lhe valeu uma imprecedível reputação de grande feiticeiro.
Muitas pessoas de todos os quadrantes geográficos procuravam os seus serviços místicos e os seus ganhos financeiros eram assinaláveis.
Cipriano foi autor de diversas obras e tratados místicos, e era já um feiticeiro respeitado, reputado e temido, quando foi contactado por um rapaz de nome «Aglaide», ( ou Adelaide).
O rapaz estava ardentemente apaixonado por uma belíssima donzela Cristã de nome Justina.
Sendo rico, Aglaide rapidamente encontrou o consentimento dos pais de Justina quanto a um casamento com ela, contudo a donzela professava uma forte fé cristã e desejava manter a sua pureza, oferecendo a sua virgindade a Deus. Por esse motivo, Justina recusou-se casar.
Desgostoso mas com forte determinação em possuir Justine, Adelaide encomendou os serviços espirituais de Cipriano.
Cipriano usou de toda a extensão da sua bruxaria para fazer Justine cair nas tentações carnais, levando-a a abrir-se e oferecer-se a Aglaide, ao passo que renunciando á sua fé Cristã.
Cipriano fez uso de diversos trabalhos malignos, e contudo nenhum deles surtiu qualquer efeito.
Para espanto de Cipriano, todo o batalhão de feitiços que usava era repelido pela jovem rapariga apenas através do sinal da cruz e das suas orações
Acostumado a fazer belas moças cair na tentação da carne e assim a leva-las a entrar pelos caminhos da luxúria, conquistando-as para si mesmo, ( a favor do diabo, a quem com a perversão lhes vendia as almas ), ou para as abrir a quem lhe encomendava os serviços de feitiçaria, Cipriano não consegue entender o que se estava a passar.
Ele encontrou muitas dificuldades, e noite após noite visitava a jovem Justina com a sua infernal quantidade de feitiços. Nada resultou.
Cipriano desiludiu-se profundamente com as suas artes místicas que ate então tinham funcionado tão forte e infalivelmente, para agora se verem derrotadas por uma mera donzela com fé no Deus de Cristo.
Aconselhado por Eusébio, ( um amigo seu), e observando o poder da fé de Justine, Cipriano concerteu-se ao Cristianismo.
Assim fazendo-o, o feiticeiro destruir todas as suas obras esotericas e tratados de magia negra, assim como ofereceu e distribuiu todos os seus bens materiais e riquezas aos pobres.
Depois de se converter, Cipriano ainda foi fortemente atormentado pelos espíritos de bruxas que o perseguiam, mas teve fé e assim afastou de si tais aparições que apenas o pretendiam reconduzir aos caminhos da feitiçaria.
A fama de Cipriano era contudo grande e as noticias da sua conversão ao cristianismo chegaram á corte do Imperador Diocleciano que á data tinha fixado residencia na Nicomédia.
Cipriano e Justina foram perseguidos, aprisionados e lavados ao imperador, diante do qual foram forçados a negar a sua fé.
Justina foi despida e chicoteada, ao passo que Cipriano foi martirizado com um açoite de pentes de ferro.
Mesmo com a carne arrancada do corpo a cada flagelação do chicote com dentes de ferro, Cipriano não renegou a sua fé, e Justina manteve-se sofredoramente fiel a Deus.
Perante a recusa de Cupriano e Justina em renunciar á fé, o imperador ordenou a sua condenação á morte.
Cipriano e Justina foram decapitados a 26 de Setembro de 304 d.C, juntamente com um outro mártir de nome Teotiso. Aceitaram a sua execução com grande fé e serenidade, tendo falecido com coragem e dignidade.
Os seus corpos nem sequer foram sepultados, e ficaram expostos por 6 dias. Um grupo de cristãos comovidos pela barbaridade, recolheu-os.
Mais tarde, o imperador Cristão Constantino, (272 – 337 d.C. ), ouviu falar de São Cipriano.
O imperador Constatino foi o primeiro imperador Romano a confirmar o cristianismo como religião oficial. Diz a lenda que na noite antes de uma batalha decisiva ás portas de Roma, o imperador sonhou com uma cruz e ouviu uma voz que lhe disse:«sob este símbolo vencerás».
Constantino interpretou o sonho como uma mensagem de Deus, e de facto venceu a batalha e conquistou o mais alto cargo de poder do império romano. Governou o império ate morrer.
Foi Constantino que convocou o concilio de Niceia, onde se fixou a data da Páscoa crista, assim como se decidiu sobre a natureza divina de Jesus. Foi também Constantino que através do Èdito de Constantino, fixou o domingo como dia de descanso cristão, o correspondente ao Sabbath judaico.
Constantino ordenou que os restos mortais de Cipriano fossem sepultados na Basílica de São João Latrão, localizada na praça com o mesmo nome em Roma, que é a catedral do Bispo de Roma, ou seja: o papa. A basílica de São João de Latrão, (Archibasilica Sanctissimi Salvatoris), é a «mãe» de todas as igrejas, aquela na qual o Santo Padre exerce o seu mais alto oficio divino.
A Basílica de São João de Latrão encontra-se localizada na praça de mesmo nome em Roma e é a Catedral do Bispo de Roma: o Papa. O seu nome oficial é «Arquibasílica do Santíssimo Salvador», e é considerada a "mãe” de todas as igrejas do mundo.
Foi na «Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput», ( mãe e cabeça de todas as igrejas do mundo), que São Cipriano, o santo e mártir, encontrou o seu eterno repouso.
Todo percurso de São Cipriano é um verdadeiro hino á vida no esplendor da sua existência:
do Diabo a Deus, dos anjos aos demónios, da feitiçaria é fé crista, da magia negra á magia branca, em tudo São Cipriano mergulhou, estudou e viveu.
Do pecado á virtude, da luxúria á santidade, da riqueza á pobreza, do poder á martirização, se alguém é digno de um percurso existência completo, rico e enriquecedor, eis que este santo assim o representa.
Controverso e polémico, em São Cipriano a própria noção de evolução espiritual através da profunda vivência das mais diversas realidades espirituais, ( do mais profano excesso, á mais sacrificada ascese), encontra corpo na vida e obra deste feiticeiro e mártir.
Outras figuras houveram como ele ao longo da história:
Maria Madalena amava profundamente a luxúria e era prostituta, uma mulher totalmente entregue ao prazer da carne, da vaidade e da luxúria, e que mais tarde viria a ser Santa; Paulo perseguia a matava homens e mulheres inocentes apenas por serem cristãos. Era um sanguinário predador de homens, um assassino que assistiu á morte de São Estêvão, (o primeiro mártir), e que perseguiu e matou cristãos na estrada que conduzia a Damasco, e que depois ascendeu a Santo; Maria Egípcia, viveu na Alexandria, ( Egipto), onde se tornou prostituta. Não vendia o corpo pensando em dinheiro, mas apenas pelo vício do prazer. A quem lhe queria pagar, ela recusava o dinheiro e dizia que se prostituía apenas para ter quantos homens fosse possível, fazendo de graça o que lhe dava prazer. Também ela se tornou Santa Maria do Egipto, a ermitã.
A história está repleta de santos que foram pecadores, e de grandes pecadores que se tornaram santos.
São Cipriano é também um desses exemplos da natureza humana em toda a sua complexa extensão:
de pecador dedicado á feitiçaria, conquistando pela bruxaria belas mulheres para as entregar ás mãos do Diabo e da luxúria, chegou a santo na mais devota assunção do termo.
Muito mais que apenas um feiticeiro, ou apenas um santo: é um símbolo da mais íntima natureza humana, na sua ampla dualidade.
O dia de São Cipriano é celebrado a 2 de Outubro, sendo que na última noite desse mesmo mês, a 31 Outubro( para 1 Novembro, a noite mais longa do ano), é celebrado o dia dos mortos, ou o dia das bruxas. O mês 9 de todos os anos, é um mês de profunda tradição na bruxaria.
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